Futebol e Política, se Misturam?
Quem
nunca escutou aquela famosa frase, futebol, religião e política não se mistura,
será mesmo que não se misturam? Neste texto demonstraremos que podem se
misturar sim. Iremos trazer nesse texto o caminho até 1970, falaremos sobre a
questão política do Brasil na época, que vivia o período da ditadura militar e
a influência política dos militares na seleção, e iremos abordar sobre o esquadrão de 70 e seus feitos naquela Copa do Mundo onde o Brasil se sagra
tricampeão mundial.
A Trajetória de 66 até a Copa de 70
A trajetória da seleção brasileira
que veio a ganhar o Tri Campeonato Mundial em 1970, começa na copa anterior, em
1966 onde a seleção teve uma campanha deplorável. Após a copa de 1966 realizada
na Inglaterra, a imprensa passou 3 anos batendo na Confederação Brasileira de
Desportos e seu presidente, na época João Havelange.
João Havelange acreditou que a
seleção necessitava de uma reformulação para a disputa das eliminatórias da
copa de 70 e assim contratou um jornalista esportivo da época chamado João
Saldanha para amenizar um pouco as críticas da imprensa.
Saldanha assume a seleção sendo um
grande opositor ao regime militar do ditador Médici na época. Ao montar o time
da seleção para a disputa das eliminatórias de 1969, o técnico Saldanha fez uma
mescla entre os melhores times do Brasil na época, eram eles: Cruzeiro, Santos
e Botafogo. Assim ele montou o time base que era formado por: Félix; Carlos
Alberto Torres, Djalma Dias, Joel, Rildo; Piazza, Gérson; Jairzinho, Tostão,
Edu e Pelé.
Nas
eliminatórias o Brasil disputou 6 partidas, ganhou 6, fez 23 gols e tomou
apenas 2 gols. Fazendo com que a seleção classificasse com facilidade para a
Copa do Mundo de 1970 no México. Mas durante a preparação para a copa João
Saldanha começou a desagradar o elenco e o governo brasileiro da época.
O
regime militar começou a se “intrometer” na seleção brasileira e causou a
demissão do técnico João Saldanha pouco antes do mundial. Em entrevistas pós
período militar Saldanha disse que: “
A ditadura não admitiria um jornalista de esquerda campeão do mundo”.
A
CBF então decide ir atrás de Zagallo para assumir o comando da seleção, Zagallo
montou assim um time com a base do Saldanha porém adicionando craques de todos
os times Brasileiros na época.
O Esquadrão de 1970
Após
a chegada de Zagallo, o técnico convocou 22 jogadores, mantendo a base da
seleção de João Saldanha, porém como mudanças pontuais e cruciais nos 11
titulares. A seleção titular de Zagallo está até hoje entre as maiores seleções
da história do futebol, a base do time titular era: Félix;
Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Rivellino;
Jairzinho, Pelé e Tostão.
Essa
base era uma junção de craques de vários times do Brasil, sendo os times que
mais cederam jogadores para seleção; Santos com 5 jogadores, Cruzeiro e
Botafogo ambos com 4 jogadores convocados, porém os principais times do Brasil
a época cederam jogadores, como, Corinthians, Palmeiras, Fluminense e São
Paulo.
A
seleção de 70 entrou para a história do futebol, por diversos fatores, o
principal seriam seus craques, além de um futebol bonito, eficiente e
envolvente, a seleção terminou a competição invicta, com 6 vitórias nos 6 jogos
disputados, uma final histórica que terminava com um placar incrível de 4 a 1 sobre a seleção Italiana, que além de forte, havia eliminado na semifinal uma das
favoritas, a Alemanha Ocidental, além do título mundial, se tornou a
primeira seleção tricampeã, fato esse que lhe dava a posse definitiva da taça
Jules Rimet.
Outros
recordes impressionantes da seleção estão no nome do Rei, Pelé o primeiro e
único jogador tricampeão mundial, Pelé possui o recorde de assistências em uma
única edição de copa (6 assistências), feito esse que lhe concedeu outro
recorde, o jogador com mais assistências em Copas do Mundo (10 totais).
Essa seleção entra para a história não só pelos feitos impressionantes dentro de campo, mas também por fatores extra campo, como o período ditatorial no Brasil, mas é seu futebol que se torna o fator principal e coloca essa seleção de 70 como a maior de todos os tempos.
Ditadura no Futebol
O
ano era 1968 e Brasil vivia o seu maior ato de repressão e suspensão de seus
direitos democráticos, era colocado em vigor o AI5( Ato Institucional Nº5), ato
este que suspendia os direitos políticos de cada cidadão brasileiro, fechamento
da casa do povo, o congresso nacional, dando total direito ao presidente em vigor,
Costa e Silva, dando início ao período chamado Anos de Chumbo.
Com
o afastamento de Costa e Silva por motivos de saúde, assume então em 1969 Emílio
Garrastazu Médici, fã declarado de futebol que viu na seleção canarinha uma oportunidade
de passar para a grande massa o jeito militar de ser, tentando passar a visão de
uma sociedade que caminha na “linha”, usando a seleção como distração para as atrocidades
cometidas pelo regime ditatorial militar.
Colocando
o seu controle na seleção brasileira, os preparadores foram coordenados por uma
comissão técnica militarizada, colocando ainda um homem de confiança do próprio
presidente para fazer a segurança da seleção e reportar tudo que era feito ou
falado ali, para manter tudo dentro do controle dos militares, e sufocar
qualquer discurso que fosse contra o regime.
Médici
se utilizou de jingles como “Para frente Brasil”, para massificar a ideia de país
patriota, e de uma nação unida.
Porém
existia alguém no “sapato” de Médici, era a figura por trás da comissão técnica,
era um aliado do grande “inimigo” dos militares, o filiado do Partido Comunista
Brasileiro, o jornalista João Saldanha. Era um crítico afiado ao regime, e isso
causava um grande incomodo nos militares, pois este fato minaria muito a visão que
os militares queriam enfiar “goela” abaixo da população.
Faltando 2 meses para a Copa do Mundo, os militares conseguiram sua vitória, a “cabeça” de João Saldanha foi encomendada por Médici, mostrando assim o seu controle total sobre a seleção.
Com
a seleção em suas mãos, e com o titulo sendo carregado para casa, os militares
usaram e abusaram da imagem dos atletas campeões para mascarar o duro regime
brasileiro. Figura principais da seleção como Pelé, posaram para fotos com o
presidente, entregaram em mãos o troféu para Médici, como se quase passassem a visão
de que o modelo militar é o modelo correto a se seguir, e não sendo figuras de
combate as barbáries feitas pelos militares. Mantendo uma posição de isenção em
uma situação como esta, apenas favoreceu os golpistas militares, deixando
passar uma oportunidade de exercer o seu poder de influência para abrir os olhos
da população sobre a censura de ideias contrárias ao regime. Mostrando assim
como a glória do maior torneio de futebol, pode ser uma derrota amargar para
uma população que sofria e não via.
O Impacto da Glória
A seleção de 1970 entrou para a
história do futebol nacional e mundial, com vários craques e a coroação de uma
divindade, o Rei Pelé. Consolidou um estilo de jogo inovador, sendo para muitos
o maior time da história. Alçou a seleção brasileiro ao topo do mundo
novamente, firmando para o mundo a imagem do país do futebol, o país que
consegue encaixar em um esquema tático os maiores de cada time, consolidando um
estilo de jogo brasileiro.